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Você é cristão? O preconceito do lado de cá

“Assim, como diz o Espírito Santo:
Hoje, se vocês ouvirem a sua voz,

não endureçam o coração…” (Hebreus 3.7-8)

O texto hoje não é dica para comunicação e mídias sociais. É algo um pouco mais pessoal. Já parou para pensar como nós tratamos as pessoas não cristãs? E como tratamos as pessoas cristãs? Parece tudo tão doce, meigo e generoso, não é mesmo? Mas, na verdade, tenho tido algumas experiências no ambiente cristão que tem me assustado muito. Será que só tem acontecido comigo ou também com vocês?

Muita gente conversa comigo a respeito destes 11 anos em que trabalho com Comunicação em igrejas e ministérios. De fato, sou uma privilegiada. Me converti na Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte/MG, no ano de 2003. Cheguei em uma igreja que sempre investiu em novas tecnologias e maneiras diversas de expandir e pregar o Evangelho com mais eficiência.

Desta vez venho aqui não para falar da alegria que é servir ao meu Rei Jesus como jornalista, consultora, palestrante ou escritora. Hoje venho aqui falar com vocês como filha de Deus, como mulher, mãe e pessoa. Nesta última década estive nos mais diversos tipos de eventos cristãos pelo Brasil. Como é bom ver o povo junto adorando a Deus. Mas, convenhamos, nem sempre as coisas nestes eventos são assim.

Recentemente estive em pelo menos 4 ou 5 grandes eventos diferentes. E apesar de todos serem “cristãos”, tinham públicos muito diferentes. E o que venho falar aqui é sobre algo para falar dentro de casa mesmo, venho falar sobre PRECONCEITO dentro da igreja. Aquilo de você tratar alguém bem por causa do que ela pode te oferecer ou ao contrário, tratar de qualquer maneira porque aquela pessoa não parece ter nada de bom para você.

“Uau, Elis, está doida? Somos crentes em Cristo, amamos uns aos outros e nos respeitamos! Como você vem falar sobre preconceito dentro da igreja?” Sinto te dizer, caro leitor, que a vida não é bem assim. Já senti na pele vários tipos de preconceito, o principal deles o de estar obesa. “Oh Elis, você tem o rosto tão bonito, por que não emagrece?”, preconceito por não usar roupas de marca ou da moda, preconceito por não fazer parte do clubinho AA dos ricos e famosos da igreja. Sinceramente, tenho visto muita hipocrisia cristã e isso tem me incomodado. Conheço minha identidade em Cristo e sei que Ele me ama apesar de qualquer coisa. Glória a Deus por isso. Outro dia ouvi a pregação de um pastor falando sobre a Parábola da ovelha perdida (Lucas 15) e em como nós nos enquadramos mais como fariseus do que os que são de Jesus. Chocante.

Estou aqui para falar à vocês de um outro tipo de preconceito. Aquele que diz: “quem é você para falar comigo?”. Em um destes eventos eu criei uns panfletos bem bonitinhos, em que compartilhei neles dicas práticas para melhorar as redes sociais de igrejas e ministérios. Amados, paguei do meu bolso (e do meu marido, claro) com muita alegria com o objetivo de levar conhecimento técnico que possa ajudar a melhorar a estratégia de Comunicação das igrejas e ministérios. Por diversas vezes ao tentar entregar um destes panfletos fui olhada dos pés a cabeça e ignorada. IGNORADA. A pessoa fingia que não me ouvia. Lembra do contexto? Em um evento cristão onde as pessoas, em tese, estão ali para se conhecer, se abençoar ou compartilhar conhecimento. Eu não estava vendendo nada para ela, estava oferecendo conhecimento gratuito.

Em um dos momentos mais estranhos e toscos que vivi, encontrei um autor best-seller do meio gospel no Brasil, estava super próximo de mim. Aproximei. “Paz do Senhor, pastor, que alegria…”, antes mesmo que eu pudesse dizer qualquer coisa ele viu o folheto na mão e me interrompeu dizendo. “Não tenho o menor interesse em saber disso”. Sabe aquela história? Se você não é famoso, se você não tem algo que pareça relevante pra mim, você não me interessa.

Irmãos, por vezes nestes últimos meses eu orei a Deus sobre isso. Não sou uma pessoa conhecida, não sou famosa, não sou ninguém. Apenas uma serva do Senhor que tem tentado ensinar a igreja a usar a comunicação com mais consciência. Sabe, aquele lance da vergonha alheia de ver tanta gente falando besteira na Internet? Pois, é, meu chamado é ensinar as pessoas a não fazerem EXATAMENTE isso. Não tenho conseguido e falhado muito… simplesmente porque irmãos/irmãs que poderiam também ser referências nesta área preferem se relacionar com o cantor gospel do momento a dar um bom testemunho.

Sempre me pergunto: “o que será que Jesus faria no meu lugar?”. Eu sei a resposta, Ele perdoaria e continuaria a caminhada dele. Por vezes já pensei em parar e desistir. Aquela história: “bora arrumar um emprego e viver honrando o Senhor onde eu estiver”. Mas, não adianta, arde no meu coração falar sobre a importância da Comunicação e do meio digital para as igrejas nos dias de hoje.

Em um outro evento, mais worship, fui como congressista, como outro qualquer. Fui conhecer o pessoal, fazer networking, falar das coisas de Deus. Amados, simplesmente em todas, TODAS, as rodinhas que cheguei para entregar este folheto com dicas de Mídias Sociais eu fui ignorada e olhada de cima a baixo. Por que? Talvez por eu estar obesa? Por eu aparentar ser mais velha e com um look não tão descolado quanto ao da turminha. Minha decisão foi, Senhor, eu vim aqui para te adorar e continuarei fazendo isso. Poucas vezes fui tão agraciada por Deus como neste evento. O Senhor me encheu de novos sonhos e planos. Restaurou sonhos antigos. Sim, Ele faz, apesar de nós.

No evento mais recente fui apresentada para uma infinidade de pessoas. “Ah, a Elis escreveu um livro sobre Mídias Sociais para igrejas, ela tem dado treinamentos na área, pesquisa e conhece bastante sobre o assunto”. Algum tentou me introduzir no grupo. A reação das pessoas: “ah, que bom, vamos jantar? Estou morrendo de fome e preciso dormir”, virando as costas pra mim. Sim, fui ignorada totalmente. Que sem graça. Se Jesus, foi desprezado… Ele disse que passaríamos por aflições.

“Foi desprezado e rejeitado pelos homens,

um homem de dores e experimentado no sofrimento.
Como alguém de quem os homens escondem o rosto,

foi desprezado, e nós não o tínhamos em estima.” (Isaías 53.3)

Sabe por que eu faço o que eu faço hoje? Porque Jesus me chamou. Ele morreu por mim e o que de mais precioso poderia me acontecer está pago. Louvo ao Senhor por isso. E o mínimo que posso fazer é entregar quem eu sou, tudo que sou, os dons e talentos para serví-lo e exaltá-lo. Melhor do que dar qualquer carteirada como jornalista ou seja lá o que for é ser eu mesma, Elisandra, filha de Deus. Alguém que tem recebido desta graça maravilhosa ao acordar todos os dias.

Trabalhar no meio cristão não é tão cor-de-rosa como pode parecer. Trabalhar no meio cristão pode parecer um pouco mais com um sepulcro caiado do que com um belo jardim. Sabe por que escrevi este texto? Para que se você, teve paciência de ler até aqui, prestar atenção no seu comportamento “cristão” por onde passa. Será que você se parece tanto com Jesus como você pensa? Será que você inclui ou exclui as pessoas na conversa? Será que o motivo de você frequentar uma igreja, um show ou uma conferência workship é os Stories “massa” que você vai produzir?

Cuidado, Jesus está voltando. E você vai prestar contas do sangue de todos aqueles que passaram por você.

Elis
Uma ninguém, transformada em alguém pelo sangue maravilhoso de Jesus.

 

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