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Crônicas de um transporte público

É tão natural quanto respirar. Diariamente, saio de casa pela manhã em direção à faculdade. Claro, se tivesse meu carro próprio o percurso não seria tão “doloroso”, porém, confesso muitas vezes ser interessante.

Lembro da época que vim do interior de Minas Gerais e me explicaram de maneira bem simplista: “ônibus amarelho são circulares – os de pertinho, ônibus azul entre bairros – não demoram muito e o vermelho intermunicipais – os que vão para mais longe.” Por incrível que pareça os meus sempre foram os vermelhos e os que passam de hora em hora.
Saio de casa com fone nos ouvidos ouvindo a Rádio CBN ou alguma música no meu mp3. Se acaso esqueço de recarregar a bateria do meu aparelho é um sofrimento! “Tenho que ouvir as conversas de ônibus, ah isso não!” Moro em Santa Luzia, uma cidade da região metropolitana de Belo Horizonte. Do meu ponto de origem ao meu destino, gastaria cerca de meia hora de carro. Porém, como meu transporte é o transporte de “todos nós” utilizo dois ônibus e no mínimo uma hora e meia para chegar no meu destino – se não pegar nenhum congestionamento.
Há dias em que não basta um, são congestionamentos em três pontos diferentes da capital mineira. Obras, obras e mais obras, e é óbvio, quando estas terminarem, já não será suficiente para a quantidade de veículos que circulam por aí. Sabe o que é dormir e acordar no ônibus e estar parado no mesmo lugar? Eu sei.
Nesses dias, mesmo ouvindo músicas ou rádio, ouço as conversas no ônibus. Não uso o fone no último volume porque não quero ficar surda. Na maior parte do tempo faço duas coisas no ônibus: escuto música e durmo ou escuto música e leio. “Como você consegue?” Me perguntam alguns, mas o que não consigo mesmo é ficar ouvindo histórias da vida alheia. Obrigatoriamente sou obrigada a participar da conversar dos outros, como ouvinte.
“Não sei o que fazer mais com meu filho, ele não quer saber de estudar.”; “Não aguento mais o meu gerente, não consigo mais nem ouvir a voz dele”; TRIMMMMM “Alôooooo, tô no ôooons. To chegando já, to pertinho do Vila Olga”. E por aí vai… Telefone toca, um ronca, o outro gargalha, a outra chora, um reclama do empurrão, e a outra que o povo é “sem-educação”, não leva nem a bolsa.
O transporte público é bem semelhante a um cortiço ambulante. Você vê de tudo, ouve de tudo, e tem é que ficar quieto. Tudo é motivo pra conversa ou desconversa. O trânsito, o motorista que não está “carregando a mãe dele”, a criança que não para de chorar, o menino que está enjoado e avisa a mãe que vai vomitar… e aí, meu colega… já foi!
Já ia me esquecendo, e os profissionais das balas? Não sabe? O vendedor de bala ambulante, que vem com um caixote vendendo sua balas, doces e pirulitos honestamente: “Licença por incomodar sua viagem, não estou aqui para roubar, nem para matar, vim aqui vender minhas bala – no singular mesmo – honestamente”. E fico injuriada, porque o cara nunca pode levantar o braço para dar sinal e descer no próximo ponto? Tem que pegar a tal moedinha e ficar batendo no ônibus até o “motô” entender que o cara quer descer.
Sem falar na quantidade de motoristas e “cobradores” que se tornam amigos de seus “clientes”. O cara para até fora do ponto para não deixar seu “freguês” para trás. O motô fala do tempo, do jogo do futebol do domingo, e até mesmo da saúde. O cobrador já pergunta da sua filha, da prova da faculdade, e como está o estágio. Entre tantos sub-mundos que vivemos, sem dúvidas a convivência com a turma do ônibus é uma delas.
Tem também a turma do fundão que nunca deixa ninguém dormir. “Aqui todo dia é festa.” Enquanto o restante do ônibus resmunga a falta que mais 45 minutos de sono iria fazer, a galera do fundão é só alegria. Zueira total! Sem falar que na hora que a galera desce, grita, manda beijo para o “motô” e o “cobrador”.
Pode até parecer engraçado e divertido para quem não anda de ônibus todos os dias… Atualmente utilizo cinco ônibus diariamente de segunda a sexta-feira. Passo cerca de quatro horas por dia dentro de ônibus, fora o tempo que passo esperando. Considerando que muita gente passa o mesmo que passo quem cuida do transporte público poderia pensar em seus usuários com mais carinho.

Por Elisandra Amâncio.

2 Comentários

  • juliana

    oh amiga ficou muito lindo, parabêns, que Deus te abênçoe mais e mais e que estás crônicas possam sair do site e ir para os ônibus e jornais..que este talento venha florescer mais e mais..( fazer amizades em ônibus é muito bom)..rsrsrsr..beijos

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