Terapia virtual: Excluindo amigos do Facebook
Lembro quando recebi convite para o Orkut ainda no início de 2004, um famoso site de relacionamento – como dizia a imprensa quando se referia à ele. A dinâmica girava em torno de ter muitos amigos e conhecer gente do mundo todo. Quanto mais o tempo passava, mais as pessoas pensavam – inclusive eu – que era importante ter muitos amigos.
“Eu quero ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar”, já dizia Roberto Carlos.
Mas a verdade é que o Orkut só te permitia ter no máximo mil amigos… E quantas pessoas criavam perfis 1, 2 e 3 por terem mais do que mil amigos em cada perfil?!? (What?)O tempo passou e tantas outras redes sociais surgiram (no contexto de Brasil). Lembro que o Orkut ainda estava no auge quando no início de 2009 criei meu perfil no Facebook e Twitter.
Ao chegar no Facebook encontrei apenas quatro amigos do Orkut que já estavam ali. As pessoas no Brasil odiavam o Facebook. As comunidades virtuais continuavam em alta no Orkut e acredito que as atualizações do Face (dá licença, sou íntima da rede) trouxeram essa nova audiência aos poucos, principalmente do segundo semestre de 2011 para cá.
Uau, quanta volta para falar sobre “excluir amigos”. A verdade é que ao chegar no Facebook convidei todos os meus quase mil amigos do Orkut para a “novidade”. Aos poucos eles foram migrando, trazendo outros amigos e indicações. Confesso que ainda pensava como no Orkut: “quanto mais amigo melhor”.
Até que um dia… em meados de 2010 essa infinidade de amigos (pois o Face possibilita até 5mil) começou a me trazer alguns constrangimentos. Enquanto o Facebook criava as fanpages, chamadas no Brasil de Páginas, comecei a entender a dinâmica de uma maneira bem diferente. “Eureka! Quanto mais amigos selecionados melhor!!!”
Ali nasceu um novo processo de terapia para o meu dia a dia. A cada vez que me deparo com um engraçadinho que posta uma foto obscena, uma piada de mau gosto ou mensagem preconceituosa, tenho o imenso PRAZER de ir ao perfil do “dito cujo” e “desfazer a amizade”.
Pode soar cruel, mórbido ou humor negro. Podem chamar do que for, mas o meu maior prazer hoje no Facebook (e outras redes sociais: Twitter, Instagram, Linkedin, Pinterest, e afins.) é excluir amigos, os maus amigos, aqueles que não oferecem conteúdo do meu interesse. Acredito que uma das grandes conquistas da Internet é poder escolher quem você quer seguir, seja pela relevância do conteúdo, amizade ou admiração.
Amizades precisam ser sadias, inclusive nas redes sociais. De que adianta ter um milhão de amigos, mas sequer nunca ter trocado uma mensagem com ele? Cada vez mais tenho feito este filtro. E que me perdoem os carentes que não gostam de serem “excluídos” ou levarem “unfollow”, mas a realidade é que precisamos ser cada vez mais nós mesmos do que criar avatares e estereótipos virtuais.
Vejo muita gente que conheço nas redes sociais que são tão perfeitos, inteligentes, engajados e concentrados em seus perfis, mas que pessoalmente, não conseguem falar um frase coerente. Temos vivido a era da inteligência digital, do compartilhamento, mas também a era da imbecilidade. Ouvi diversas vezes a frase que “menos é mais”. E sinceramente? É mesmo.
Sair emitindo a opinião de tudo quanto é assunto, compartilhando tudo quanto é foto e curtindo qualquer bobagem postada te faz um consumidor e disseminador de conteúdo duvidável, no mínimo. Se você leu esta crônica até aqui, posso falar abertamente… Claro, amo Internet, tecnologia e redes sociais – quem convive comigo sabe disso muito bem – mas estou cada vez mais seletiva com as pessoas que fazem parte das minhas redes.
Todos reclamam da falta de tempo e da correria… mas já parou para pensar em quantas horas por mês você perde lendo informação, vendo vídeos ou fotos totalmente SEM IMPORTÂNCIA? Precisamos ser mais seletivos sim. Time is money? Não apenas isso, mas tempo é conhecimento. Não troque sua vida real pela virtual simplesmente.
Conheço muita gente, não tenho um milhão de amigos =) mas já fiz amigos pela Internet que conheci pessoalmente depois, já reencontrei amigos que conheci há muitos anos pessoalmente e que agora estão na Internet, já aprendi (e aprendo) muito com palestras, cursos e mensagens em vídeo que estão no YouTube, já me diverti vendo vídeos engraçados (amo o canal Improvável, ótimo para aliviar o stress #ficadica) e tenho amigos virtuais que talvez nunca encontre pessoalmente, mas tenho um carinho muito especial. Mas a questão é… até que ponto você deve consumir todo esse conteúdo, seguir e ser seguido por toda essa gente e também dar intimidade para as pessoas?
Quantas vezes sinto que minha privacidade foi invadida? Por outro lado, até que ponto exponho minha vida? Vivi diversas situações com pessoas que pegam meu telefone, MSN (graças à Deus que ele tem os dias contados) ou meu email e se acham íntimos, no direito de até me questionar sobre meus trabalhos e meus clientes?
E se de repente, já te exclui da minha “rede”, entenda, a Internet te dá liberdade para seguir quem você quiser, mas isso não obriga o “outro” a te seguir. Direito de ir e vir? Sim, também nas ondas digitais. Faz parte da vida lidar com perdas, inclusive, as virtuais. Não #morra porque alguém te excluiu ou deu unfollow, mas entenda que é direito da outra pessoa escolher.
Por isso, caros amigos, me perdoem a confissão, mas realmente AMO excluir amigos no Facebook. É como tirar tudo que está dentro do armário para fora e ir guardando somente o necessário, organizado, tudo limpo e claro. Tenha o cuidado de manter por perto pessoas coerentes, sinceras e que curtem você. Corra de pessoas mal humoradas, invejosas, pessimistas e mentirosas. Já percebeu como é deprimente seguir determinadas pessoas que “tudo” para elas está ruim? #PenseNisso
Pratique o desapego! Pratique excluir amigos no Facebook! É uma terapia e tanto, precisam tentar!
“A ninguém te mostres muito íntimo, pois familiaridade excessiva gera desprezo”, by Tomás de Aquino, via Danilo Fernandes no Twitter.
#FicaDica =)
Elis Amâncio
Artigo publicado originalmente 23/11/2012 – Terapia virtual: Excluindo amigos do Facebook –